domingo, 27 de dezembro de 2015

 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) caracteriza-se por dois tipos de manifestações: as obsessões ou idéias obsessivas e as compulsões ou rituais compulsivos. As obsessões são idéias ou imagens que vem à mente da pessoa independente de sua vontade repetidamente. Embora a pessoa saiba que são idéias suas, sem sentido, não consegue evitar de pensá-las. São freqüentes idéias relacionadas a religião, sexo, duvidas, contaminação, agressão (por exemplo, a pessoa tem idéias repetidas de que suas mãos estão contaminadas por ter tocado em objetos "sujos"). As compulsões são atos ou rituais que o indivíduo se vê obrigado a executar para aliviar ou evitar as obsessões. Se a pessoa não executa o ato compulsivo ela fica muito ansiosa. Os rituais são repetidos numerosas vezes, apesar da sensação que a pessoa tem de que não fazem sentido. Compulsões freqüentes são lavar as mãos, verificar se a porta está trancada ou a válvula do gás está fechada, questionar uma informação repetidamente para ver se está correta, executar minuciosamente uma série pré-programada de atos para evitar que aconteça algum mal a alguém, contar ou falar silenciosamente. Tanto as obsessões como as compulsões ocupam uma boa parte do tempo da pessoa, prejudicando ou dificultando seu dia a dia. 
Como a própria pessoa reconhece que seus pensamentos ou atos são sem sentido, ela procura disfarçar tais manifestações, evitando conversar sobre esse assunto e relutando em procurar auxilio médico psiquiátrico.
O transtorno obsessivo compulsivo inicia em geral no fim da adolescência, por volta dos 20 anos de idade e atinge cerca de 2 em cada 100 pessoas. A doença pode se manifestar em crianças também. Em geral a doença evolui com períodos de melhora e piora; com o tratamento adequado há um controle satisfatório dos sintomas, embora seja pouco freqüente a cura completa da doença.
Muitos portadores de TOC apresentam também outros transtornos como fobia social, depressão, transtorno de pânico e alcoolismo. Alguns transtornos mentais como a tricotilomania (arrancar pelos ou cabelos), o distúrbio dimórfico do corpo (idéia fixa de que há um pequeno defeito no corpo, em geral na face) e a síndrome de Tourette (síndrome dos tics) parecem estar relacionados ao TOC.
Pesquisas recentes mostram que o TOC é uma doença do cérebro na qual algumas áreas cerebrais apresentam um funcionamento excessivo. Sabe-se também que o neurotransmissor serotonina está envolvido na formação dos sintomas obsessivo-compulsivos. Acredita-se também que as pessoas que tem uma predisposição para a doença, reagem excessivamente ao estresse. Tal reação consiste nos pensamentos obsessivos, que por sua vez geram mais estresse, criando assim um circulo vicioso.
O tratamento do transtorno obsessivo compulsivo envolve a combinação de medicamentos e psicoterapia. Os medicamentos utilizados são os antidepressivos, em geral em doses elevadas e por tempo bastante prolongado. A psicoterapia mais estudada é a terapia comportamental, através da qual o paciente é estimulado a controlar seus pensamentos obsessivos e rituais compulsivos. Outras formas de psicoterapia auxiliam o paciente a lidar com as situações de ansiedade que agravam a doença.
O que é exibicionismo?
Exibicionismo é uma forma de excitação erótica; um expediente utilizado por um sujeito a fim de excitar-se sexualmente para, eventualmente, atingir o orgasmo. A excitação provém da exposição, do exibir, o corpo, ou parte dele, para um outro. Basicamente, o exibicionismo pode ocorrer de duas formas. Na primeira, as pessoas envolvidas sabem o que está acontecendo: trata-se de uma jogo erótico onde existe uma cumplicidade. Na segunda vertente, e aqui temos o exibicionismo tal é como compreendido pela literatura especializada, ocorre uma imposição de um ato, o de exibir-se, a um outro que não o deseja. A componente agressiva presente nesta forma de exibicionismo é fundamental para a compreensão da dinâmica psíquica do exibicionista: excitação alcançada advém, justamente, do choque, do horror, que ele provoca no outro ao expor-se.
Seria difícil dividir o exibicionismo em graus, da mesma forma que seria difícil graduar outras dinâmicas psíquicas do erotismo. Mesmo porque, em muitos casos, o desejo de exibir-se não é totalmente consciente para a pessoa em questão.
Quanto ao exemplo citado, “mulheres que gostam de posar nuas em lugares públicos” deve ser cuidadosamente analisado pois, muitas vezes, estas mulheres pousam nuas por razões outras – financeiras por exemplo – e não como meio de excitação erótica. Evidentemente, nesta caso, não podemos falar de exibicionismo.
Quanto às que preferem “ter relações sexuais em locais públicos,” não podemos nos esquecer que uma relação sexual exige um parceiro. Ou seja, um homem igualmente exibicionista disposto a jogar compor o cenário.
O ato de exibir-se é, como já foi dito, uma manifestação da sexualidade que não possui uma origem única. Cada exibicionista teve histórias de vida diferentes que culminaram nesta forma de sexualidade. Não existe uma razão única para torna-se exibicionista assim como não existe uma razão única para tornar-se fetichista, sado-masoquista, heterossexual, homossexual e outras tantas formas de expressão da sexualidade humana.
O exibicionismo, assim como qualquer outra prática sexual, torna-se patológico, caracterizando-se como uma perversão, quando imposto a um outro que não consinta nisso ou que não seja responsável. Por exemplo, impor desejos e condições próprias à pessoas que não estejam dispostas a participar daquele roteiro erótico (estrupo, voyeurismo, exibicionismo…), ou pessoas não responsáveis (crianças, adultos mentalmente perturbados…).

Comportamentos da vida adulta que são influenciados pela infância

Sua personalidade e caráter hoje em dia são reflexos dos tempos de criança. Pelo menos é o que defende vários estudo




Inúmeras pesquisas já provaram que o comportamento adotado na vida adulta é, em grande parte, decorrente das experiências pelas quais passamos na infância. Obesidade e subserviência são alguns problemas que têm raízes no passado e podem ser atribuídos às atitudes de nossos pais.
Para ajudar você a fazer conexões entre o passado e o presente e se entender melhor - e quem sabe até tentar melhorar as características que lhe incomodam -, o Business Insider reuniu 14 fatores que podem ter sofrido influência de acontecimentos passados. Veja quais deles selecionamos:
Codependência
Se quando criança seus pais não deixavam você tomar decisões, você pode ter se tornado um adulto dependente física ou emocionalmente de uma outra pessoa. De acordo com a conselheira mental Laura JJ Dessauer, aquelas crianças que não puderam escolher como se vestir ou com quem brincar se tornaram adultos codependentes, o que significa que você nunca tem controle em seus relacionamentos, sendo facilmente manipulado.
Intimidade
Como foi a relação com seu pai? Se na infância você era ligado a seu pai, como adulto, sabe lidar com intimidade. "A pesquisa encontrou uma conexão definitiva entre a qualidade da relação pai-filho e as relações interpessoais mais tarde na vida", disse o pesquisador-chefe Dr. Nurit Nahmani. O que quer dizer que se quando criança você teve uma conexão emocional com seu pai, você é capaz de ingressar em um relacionamento íntimo saudável com um eventual parceiro amoroso.
Teimosia
Se você teve pais muito controladores, você pode ter se tornado um adulto teimoso. Teimosia é um mecanismo de defesa que as crianças adotam para escapar da vontade de seus superprotetores. Quando crescerem, elas provavelmente carregarão esse comportamento para a fase adulta.
Problemas de comunicação
Você via muitos programas de televisão quando criança? Se sim, você pode ter prejudicado suas habilidades de comunicação. Pesquisadores descobriram que a TV diminui a comunicação entre pais e filhos. Depois de observar crianças mães e seus rebentos, eles concluíram que mesmo quando havia diálogos, os comentários dos pais eram alheios à fala de seus filhos, resultando em uma "troca improdutiva que poderia dificultar oportunidade de aprendizagem para as crianças".
Agressividade
Aqueles que assistiram a muita violência na televisão estão propensos a se tornarem adultos agressivos. De acordo com um estudo que durou 15 anos, as crianças modelam seus comportamentos nas cenas violentas, nas quais gestos agressivos são recompensados. 
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Mau comportamento
Se você apanhou muito quando criança, pode ter se tornado um adulto dissimulado. No livro "Drive", Daniel Pink explica que a tentativa de moldar o comportamento de uma criança através de recompensas ou punições não vai atingir o objetivo desejado. Em vez disso, se corrigirem ao receber palmadas ou retaliações do gênero, as crianças vão se empenhar cada vez mais para não serem pegas da próxima vez. A conclusão é que se seus pais bateram muito em você na infância, provavelmente você vai se deter a um mau comportamento, contudo, vai aprender como agir assim sem ser pego.
Hábitos alimentares
Traumas na infância podem ocasionar a obesidade na fase adulta. Vários estudos indicam uma correlação entre transtornos alimentares e o abuso sexual e outras experiências traumáticas na infância. Um estudo de 2007 apontou que o abuso sexual na infância aumenta o risco de obesidade em 27% em comparação com mulheres que nunca foram abusados ​​sexualmente. Quanto aos homens, um estudo de 2009 mostrou que sofrer abuso sexual na infância aumenta o risco de obesidade em 66% em comparação com os homens que nunca foram abusados sexualmente.
Desempenho fraco
Se você sofreu bullying quando criança, provavelmente se tornou um adulto pouco prático. Um estudo britânico que acompanhou 7.771 pessoas dos 7 aos 50 anos descobriu que as vítimas de bullying na infância tinham baixa escolaridade, maior ansiedade, salários mais baixos e maior índice de depressão.
Depressão
Maus tratos na infância aumentam a predisposição à depressão. Um estudo do King's College de London realizado em 26 mil pessoas constatou que aqueles que enfrentaram diferentes formas de maus tratos têm 2,27 vezes mais chances de ter casos recorrentes de depressão.
Os maus-tratos, de acordo com relatório do The Guardian são:
• Rejeição por parte da mãe
• Disciplina severa por um dos pais
• Comportamento inconstante por parte do cuidador primário durante toda a infância
• Maus tratos físicos ou sexuais



 A Psicanálise utiliza a Filosofia como ferramenta, pois Psicanálise é um procedimento investigativo de processos mentais, praticamente inacessíveis de outra forma, através de um acúmulo sistemático de conhecimentos sobre a mente para o tratamento das neuroses e a Filosofia, etimologicamente, quer dizer amor pelo saber, é uma palavra grega, formada por “filia” (amor) e “sofia” (saber).


 A atividade filosófica acompanha o ser humano na trajetória do desenvolvimento do seu saber, é o modo como a pessoa que quer conhecer a realidade se dirige a ela. A atividade filosófica de Indagação é a atitude de procurar saber, tentar descobrir, investigar, pesquisar, averiguar. Portanto, a indagação filosófica, inerente à atitude de quem quer buscar o conhecimento, caracteriza-se pelo perguntar o que a coisa, ou valor, ou a ideia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual, perguntar como a coisa, a ideia ou o valor é. Perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor existe e é como é. A atitude filosófica de Indagação faz parte de qualquer ciência que pretenda investigar determinada realidade. A Indagação é uma postura científica.

 O outro lado da atividade filosófica é a Reflexão. A Reflexão é o movimento da volta do pensamento para si mesmo, se interrogando, a si mesmo, sobre seu próprio pensamento, sobre sua ação no mundo e sobre as relações que estabelece com os outros seres e sobre os fatos e acontecimentos. Esta atividade é mais particular da Filosofia.

 A Reflexão movimenta-se em torno de três conjuntos de perguntas:

1. Por que pensamos o que pensamos, por que dizemos o que dizemos e por que fazemos o que fazemos?

2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos e fazemos?

3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? (Chauí, Convite à Filosofia, p. 15).

 Por isso se diz que a Reflexão filosófica é radical, pois busca as raízes da capacidade e finalidade humanas para conhecer e agir. Quais são as razões, o sentido e a finalidade de nossas ações? Essa é a atividade reflexiva da Filosofia.

 Para que as atividades filosóficas de Indagação e Reflexão possam resultar em um acréscimo de saber, é preciso que sejam realizadas de forma sistemática, isto é, com precisão, fundamentação racional e com rigor lógico entre enunciados e pensamentos. Dessa forma, nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões podem alcançar visão crítica de si mesmas e ultrapassem as características do senso comum.

 Freud descobriu que o universo dos impulsos que regem a vida do homem, e isto faz Freud um legítimo representante das correntes naturalistas. Nem sempre a razão governa nossas ações. O homem não é apenas o ser racional, assim definido pelos racionalistas. Ao concluir a existência da sexualidade infantil, por meio de sua prática como psicoterapeuta, base empírica para fundamentar suas afirmações, Freud constata que muitas formas de distúrbios psíquicos eram devidas a conflitos ocorridos na infância. Freud afirmou, em carta para Wilhelm Fliess, que ao passar da medicina à psicologia, estaria quase a concretizar seu ideal de aspiração ao conhecimento filosófico. Antes de se dedicar ao estudo da pisque humana, Freud dedicou-se à médica neurológica e na juventude, teve a filosofia como objeto de estudo, referência para compreensão do afastamento, pelo homem, dos problemas que a realidade apresenta. É sabido que a filosofia não se caracteriza por um conteúdo específico, porém isso não implica que cientistas não possuam referências filosóficas, mesmo que não se fundamentem nelas.

 Filosofar é examinar, prestar atenção, analisar com cuidado, aplicar-se às impressões e opiniões, aos conhecimentos científicos e técnicos, interrogando-se sobre o seu significado. É refletir, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar em busca constante do significado.

 A reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e do conjunto. Embora a psicanálise, como as demais ciências, tem objeto determinado para o estudo dos problemas e distúrbios humanos, o psicanalista adota a atitude filosófica ao obedecer aos três requisitos da reflexão filosófica:
Radicalidade: exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, quer dizer, é preciso que se vá até as raízes da questão, até seus fundamentos, em psicanálise, o inconsciente.
Rigor: É preciso garantir a primeira exigência, radicalidade, sistematicamente, segundo métodos determinados (métodos psicoterapêuticos).

Globalidade: O problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa maneira perspectiva do conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido.

Esses requisitos filosóficos podem parecer isolados da prática psicanalítica, mas através deles o psicanalista localiza o problema, tornando possível sua delimitação para, através da reflexão filosófica, analisá-lo e, quiçá, solucioná-lo. Freud, ao iniciar seus estudos empíricos sobre a psique humana, apresentava estas atitudes básicas que predominam diversamente, umas ou outras, em cada filósofo.

 Não seria possível a conclusão do papel desempenhado pelo inconsciente, sem que Freud obedecesse às três atitudes mais frequentes dos filósofos, resguardadas diferenciações por vezes fundamentais:

A admiração: Atitude vinda da Grécia clássica (Platão e Aristóteles) é o impulso inicial de todo filosofar. No comportamento admirativo, o homem toma consciência de sua própria ignorância, o que o leva a interrogar o que ignora até atingir a supressão da ignorância, isto é, o conhecimento.
A dúvida: Tendo Descartes como representante (Discurso sobre o Método) neste comportamento a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da vida filosófica, e nisso reside a eficácia.

A insatisfação moral: Se em seu comportamento usual o homem é encontrado absorvido no mundo que o cerca, a filosofia se impõe como tarefa a partir do momento em que este homem quotidiano cai em si e se pergunta pelo sentido de sua própria existência. O mundo exterior é abandonado em consequência de um sentido de insatisfação, levando o homem a tomar consciência da própria miséria.

Sigmund Freud, além de fundador e o mais expressivo representante da psicanálise, põe em relevo um novo objeto de investigação, o inconsciente. Ele procurou evidenciar a determinação inconsciente de ações, sentimentos e condutas e tornou a prática psicanalítica numa interpretação filosófica da vida.
ATOS OBSESSIVOS X PRÁTICAS RELIGIOSAS



A semelhança existente entre os chamados atos obsessivos dos que sofrem de afecções venosas e as práticas pelas quais o crente expressa sua devoção. 
O termo ‘cerimonial’, que tem sido aplicado a alguns desses atos obsessivos que constitui uma evidência disso. 

Em minha opinião, entretanto, essa semelhança não é apenas superficial, de modo que a compreensão interna (insight) da origem do cerimonial neurótico pode, por analogia, estimular-nos a estabelecer inferências sobre os processos psicológicos da vida religiosa.

As pessoas que praticam atos obsessivos ou cerimoniais pertencem à mesma classe das que sofrem de pensamento obsessivo, idéias obsessivas, impulsos obsessivos e afins. Isso, em conjunto, constitui uma entidade clínica especial, que comumente se denomina de ‘neurose obsessiva’ [Zwangsneurose]. 
Mas não devemos tentar inferir de tal denominação a natureza da enfermidade, pois, a rigor, também outras espécies de fenômenos mentais mórbidos podem possuir características ‘obsessivas’. 
Em lugar de uma definição, contentemo-nos, no momento, em obter um conhecimento minucioso desses estados, pois ainda não chegamos ao critério distintivo da neurose obsessiva, que provavelmente se encontra oculto em camadas muito profundas, embora pareça revelar sua presença em todas as manifestações da doença.
Os cerimoniais neuróticos consistem em pequenas alterações em certos atos cotidianos, em pequenos acréscimos, restrições ou arranjos que devem ser sempre realizados numa mesma ordem, ou com variações regulares. 

Essas atividades, meras formalidades na aparência, afiguram-se destituídas de qualquer sentido. 
O próprio paciente não as julga diversamente, mas é incapaz de renunciar a elas, pois a qualquer afastamento do cerimonial manifesta-se uma intolerável ansiedade, que o obriga a retificar sua omissão. 

Tão triviais quanto os próprios atos cerimoniais são as ocasiões e as atividades ornamentadas, complicadas e sempre prolongadas pelo cerimonial – por exemplo, vestir e despir-se, o ato de deitar-se ou de satisfazer as necessidades fisiológicas. 
O cerimonial é sempre executado como se tivesse de obedecer a certas leis tácitas. Tomemos, por exemplo, um cerimonial relativo ao ato de deitar-se: a cadeira deve ficar numa determinada posição ao lado da cama, as roupas colocadas sobre a mesma numa determinada ordem, o cobertor preso embaixo do colchão e o lençol bem esticado, os travesseiros arrumados de maneira especial, e o corpo da pessoa deve adotar uma posição bem determinada. 
Só depois disso tudo ela poderá dormir. 
Em casos leves, o cerimonial parece ser nada mais do que a intensificação de hábitos ordeiros muito justificáveis; é a especial consciência que cerca sua execução e a ansiedade que surge com qualquer falha que lhe dão o caráter do ‘ato sagrado’. Em geral se suporta mal qualquer interrupção no cerimonial, sendo quase sempre excluída a presença de outras pessoas durante sua realização.

Toda atividade pode converter-se em um ato obsessivo, no sentido mais amplo do termo, se for complicada por pequenos acréscimos ou se adquirir um caráter rítmico através de pausas e repetições. 
Não esperemos encontrar uma distinção nítida entre ‘cerimoniais’ e ‘atos obsessivos’. Em geral os atos obsessivos derivam-se de cerimoniais. 
Além desses, o conteúdo do distúrbio abrange proibições e impedimentos (abulias), que na realidade apenas levam adiante o trabalho dos atos obsessivos, portanto algumas coisas são completamente vedadas ao paciente e outras só permitidas após a realização de um determinado cerimonial.
É singular que tanto as compulsões como as proibições (ter de fazer isso e não ter de fazer aquilo) aplicam-se inicialmente só às atividades solitárias do sujeito, e por muito tempo não afetam seu comportamento social. 
Conseqüentemente, os que sofrem dessa enfermidade são capazes de manter o seu mal como um assunto particular, ocultando-o por muitos anos. Na verdade, o número de pessoas que sofrem dessas formas de neurose obsessiva é muito maior do que o que chega ao conhecimento dos médicos. 
Além disso, para muitas vítimas a ocultação se torna fácil tendo em vista que são capazes de desempenhar seus deveres sociais durante parte do dia, desde que devotem certo número de horas a suas atividades secretas, longe de olhares, como Mélusine.
É fácil perceber onde se encontram as semelhanças entre cerimoniais neuróticos e atos sagrados do ritual religioso: nos escrúpulos de consciência que a negligência dos mesmos acarreta, na completa exclusão de todos os outros atos (revelada na proibição de interrupções) e na extrema consciência com que são executados em todas as minúcias. 
Mas as diferenças são igualmente óbvias, e algumas tão gritantes que tornam qualquer comparação um sacrilégio: a grande diversidade individual dos atos cerimoniais [neuróticos] em oposição ao caráter estereotipado dos rituais (as orações, o curvar-se para o leste, etc.), o caráter privado dos primeiros em oposição ao caráter público e comunitário das práticas religiosas, e acima de tudo o fato de que, enquanto todas as minúcias do cerimonial religioso são significativas e possuem um sentido simbólico, as dos neuróticos parecem tolas e absurdas. 
Sob esse aspecto a neurose obsessiva parece uma caricatura, ao mesmo tempo cômica e triste, de uma religião particular, mas é justamente essa diferença decisiva entre o cerimonial neurótico e o religioso que desaparece quando penetramos, com o auxílio da técnica psicanalítica de investigação, no verdadeiro significado dos atos obsessivos. 

No decurso dessa investigação, dilui-se completamente o aspecto tolo e absurdo de que se revestem os atos obsessivos, sendo explicada a razão de tal aspecto. 
Descobre-se que todos os detalhes dos atos decisivos possuem um sentido que servem a importantes interesses da personalidade, e que expressam experiências ainda atuantes e pensamentos caracterizados com afeto. 
Fazem isso de duas formas: por representação direta ou simbólica, podendo, conseqüentemente, ser interpretados histórica ou simbolicamente.

Devo ilustrar com alguns exemplos essa minha asserção. 
Os que estão familiarizados com os achados da investigação psicanalítica das psiconeuroses não se surpreenderão ao saber que o que está sendo representado em atos obsessivos e em cerimoniais deriva das experiências mais íntimas do paciente, principalmente das sexuais.
(a) Uma jovem que esteve sob minha observação sofria da compulsão de fazer a água revolutear na bacia várias vezes após se lavar. 
O significado desse ato cerimonial prendia-se ao seguinte ditado: ‘Não jogue fora a água suja até obter uma limpa’. 
Com esse ato pretendia advertir a irmã, a quem era muito afeiçoada, e impedi-la de se divorciar de um marido pouco satisfatório até que firmasse uma relação com um homem melhor.
(b) Uma mulher que estava vivendo separada do marido via-se sob a compulsão de deixar intacta a melhor porção de tudo aquilo que comia: por exemplo, só aproveitava as beiradas de uma fatia de carne assada. 
A explicação dessa renúncia foi encontrada por meio da data de sua origem. Ela surgiu no dia seguinte àquele em que se recusara a ter relações maritais com seu marido – isto é, após ter renunciado ao melhor.
(c) A mesma paciente só podia sentar-se em uma determinada cadeira, da qual se levantava com dificuldade. 
Devido a certos aspectos de sua vida de casada, a cadeira simbolizava o marido, a quem ela permanecia fiel. Essa mulher encontrou a explicação para sua compulsão na seguinte frase: ‘É tão difícil nos separarmos de alguma coisa (um marido, uma cadeira) a que já nos fixamos.’
(d) Durante algum tempo ela repetiu um ato obsessivo especialmente singular e absurdo: saía correndo do seu quarto para outro onde havia uma mesa de centro; arrumava a toalha dessa mesa duma determinada forma e, tocando a sineta, chamava a criada; fazia com que esta se aproximasse da mesa e a despedia após incumbi-la de alguma tarefa sem importância. 
Tentando encontrar uma explicação para tal compulsão, lembrou-se de que a toalha da mesa estava manchada e de que sempre a arrumava de maneira a que a mancha fosse forçosamente vista pela criada. 
Essa cena era a reprodução de uma experiência de sua vida conjugal que muito ocupara sua mente, constituindo-lhe um problema. 
Na noite de núpcias o marido sofrera um percalço bastante comum: vira-se impotente. 
Durante a noite ele correra várias vezes de seu quarto para o dela, em renovadas tentativas de obter sucesso; pela manhã, com vergonha da arrumadeira do hotel que faria as camas, derramou o conteúdo de um vidro de tinta vermelha no lençol, mas de forma tão canhestra que o manchou num local pouco adequado a seus propósitos. 
Portanto, com seu ato obsessivo ela representava a noite de núpcias. ‘Cama e mesa’ entre eles compõem o casamento.
(e) Outra compulsão que adquiriu – a de anotar o número de todas as décadas de papel-moeda antes de se desfazer das mesmas – teve de ser interpretada historicamente. 
Numa época em que ainda tencionava separar-se do marido, se encontrasse outro homem mais digno de confiança, permitiu-se receber as atenções de um cavalheiro que conhecera numa estação de águas, mas de cuja seriedade duvidava. 
Certo dia, com falta de dinheiro miúdo, pedira-lhe para trocar uma moeda de cinco coroas. 
Ele a satisfez, e guardando a moeda declarou galantemente que jamais se separaria da mesma, pois estivera nas mãos dela. 
Em encontros posteriores, ela com freqüência sentiu a tentação de desafiá-lo a mostrar a moeda de cinco coroas, como se quisesse convencer-se de que podia acreditar em suas intenções, mas conteve-se tendo em vista que é impossível distinguir uma determinada moeda entre outras do mesmo valor. Assim, sua dúvida não foi resolvida, deixando-lhe a compulsão de anotar os números das notas, de modo a poder distinguir umas das outras.
Com esses poucos exemplos, escolhidos entre os muitos que reuni, tenciono simplesmente ilustrar minha afirmativa de que nos atos obsessivos tudo tem sentido e pode ser interpretado. 
O mesmo se pode dizer dos cerimoniais propriamente ditos, só que para corroborar tal asserção seriam necessárias maiores provas. 
Estou cônscio de que nossas explicações acerca dos atos obsessivos aparentemente nos estão afastando da esfera do pensamento religioso.
Uma das condições da doença é o fato de que a pessoa que obedece a uma compulsão, o faz sem compreender-lhe o sentido – ou, pelo menos, o sentido principal. 
É somente através dos esforços do tratamento psicanalítico que ela se torna consciente do sentido do seu ato obsessivo e, simultaneamente, dos motivos que a compelem ao mesmo. 
Esse fato importante pode ser expresso da seguinte forma: o ato obsessivo serve para expressar motivos e idéias inconscientes. 
Com essa afirmação, parece que nos afastamos ainda mais das práticas religiosas, mas devemos recordar que em geral também o indivíduo normalmente piedoso executa o cerimonial sem ocupar-se de seu significado, embora os sacerdotes e os investigadores científicos estejam familiarizados com o significado, em grande parte simbólico, do ritual. 
Para os crentes, entretanto, os motivos que os impelem às práticas religiosas são desconhecidos ou estão representados na consciência por outros que são desenvolvidos em seu lugar.
A análise de atos obsessivos já nos possibilitou alguma compreensão interna (insight) de suas causas e da seqüência de motivos que os tornam ativos. 
Podemos dizer que aquele que sofre de compulsões e proibições comporta-se como se estivesse dominado por um sentimento de culpa, do qual, entretanto, nada sabe, de modo que podemos denominá-lo de sentimento inconsciente de culpa, apesar da aparente contradição dos termos. 
Esse sentimento de culpa origina-se de certos eventos mentais primitivos, mas é constantemente revivido pelas repetidas tentações que resultavam de cada nova provocação. 
Além disso, acarreta um furtivo sentimento de ansiedade expectante, uma expectativa de infortúnio ligada, através da ideia de punição, à percepção interna da tentação. 
Quando o cerimonial é formado, o paciente ainda tem consciência de que deve fazer isso ou aquilo para evitar algum mal, e em geral a natureza desse mal que é esperado ainda é conhecida de sua consciência. 
Contudo, o que já está oculto dele é a conexão – sempre demonstrável – entre a ocasião em que essa ansiedade expectante surge e o perigo que ela provoca. Assim o cerimonial surge com um ato de defesa ou de segurança, uma medida protetora.
O sentimento de culpa dos neuróticos obsessivos corresponde à convicção dos indivíduos piedosos de serem, no íntimo, apenas miseráveis pecadores; e as práticas devotas (tais como orações, invocações, etc.) com que tais indivíduos precedem cada ato cotidiano, especialmente os empreendimentos não habituais, parecem ter o valor de medidas protetoras ou de defesa.
Obteremos uma compreensão interna (insight) mais profunda do mecanismo da neurose obsessiva se considerarmos o fato fundamental que a mesma oculta. 
Há sempre a repressão de um impulso instintual (um componente do instinto sexual) presente na constituição do sujeito e que pôde expressar-se durante algum tempo em sua infância, sucumbindo posteriormente à pressão. 
No decurso da repressão do instinto cria-se uma consciência especial, dirigida contra os objetivos do instinto; essa formação reativa psíquica, porém, sente-se insegura e constantemente ameaçada pelo instinto emboscado no inconsciente. 
A influência do instinto reprimido é sentida como uma tentação, e durante o próprio processo de repressão gera-se a ansiedade que adquire controle sobre o futuro, sob a forma de ansiedade expectante. 
O processo de repressão que acarreta a neurose obsessiva deve ser considerado como um processo que só obtém êxito parcial, estando constantemente sob a ameaça de um fracasso. 
Podemos, pois, compará-lo a um conflito interminável; reiterados esforços psíquicos são necessários para contrabalançar a pressão constante do instinto. 
Assim, os atos cerimoniais e obsessivos surgem, em parte, como uma proteção contra a tentação e, em parte, como proteção contra o mal esperado. 
Essas medidas de proteção logo parecem tornar-se insuficientes contra a tentação, surgindo então as proibições, cuja finalidade é manter à distância as situações que podem originar tentações. 
Veremos que as proibições substituem os atos obsessivos assim como uma fobia evita um ataque histérico. 
Assim, um cerimonial é um conjunto de condições que devem ser preenchidas, da mesma forma que uma cerimônia matrimonial da Igreja significa para o crente uma permissão para desfrutar os prazeres sexuais, que de outra maneira seriam pecaminosos. Uma outra característica da neurose obsessiva, e de todas as enfermidades semelhantes, é que suas manifestações (seus sintomas, inclusive os atos obsessivos) preenchem a condição de ser uma conciliação entre as forças antagônicas da mente. Essas manifestações reproduzem, assim, uma parcela daquele mesmo prazer que pretendiam evitar, e servem ao instinto reprimido tanto quanto às instâncias que o estão reprimindo. 
Na verdade, ao passo que a enfermidade progride, os atos que de início se destinavam principalmente a manter a defesa aproximam-se progressivamente dos atos proibidos pelos quais o instinto pôde expressar-se na infância.
Também na esfera da vida religiosa encontraremos alguns aspectos desse estado de coisas. A formação de uma religião parece basear-se igualmente na supressão, na renúncia, de certos impulsos instintuais. 
Entretanto, esses impulsos não são componentes exclusivamente do instinto sexual, como no caso das neuroses; são instintos egoístas, socialmente perigosos, embora geralmente abriguem um componente sexual. 
Afinal, o sentimento de culpa resultante de uma tentação contínua e a ansiedade expectante sob a forma de temor da punição divina nos são familiares há mais tempo no campo da religião do que no da neurose. 
Talvez devido à intromissão de componentes sexuais, talvez pelas características gerais dos instintos, também na vida religiosa a supressão do instinto revela-se um processo inadequado e interminável. 
Na realidade, as recaídas totais no pecado são mais comuns entre os indivíduos piedosos do que entre os neuróticos, dando origem a uma nova forma de atividade religiosa: os atos de penitência, que têm seu correlato na neurose obsessiva.
Já assinalamos, como característica curiosa e menosprezável da neurose obsessiva, que seus cerimoniais se prendem aos atos menores da vida cotidiana e se expressam através de restrições e regulamentações tolas em conexão com eles. 
Só compreendemos esse singular aspecto do quadro clínico quando percebemos que os mecanismo do deslocamento psíquico, por mim descoberto inicialmente na construção de sonhos, domina os processos mentais da neurose obsessiva. 
Os poucos exemplos de atos obsessivos já citados tornam claro que o simbolismo e os pormenores desses mesmos atos resultam de um deslocamento, da substituição do elemento real e importante por um trivial – por exemplo, do marido pela cadeira. 
É essa tendência para o deslocamento que modifica progressivamente o quadro clínico, terminando por transformar um fato extremamente banal em algo da maior urgência e importância. 
É inegável que também no campo religioso existe uma tendência para o deslocamento de valores psíquicos, e em sentido análogo, de forma que os cerimoniais triviais da prática religiosa gradualmente adquirem um caráter essencial, tomando o lugar dos pensamentos fundamentais. 
Por isso é que as religiões sofrem reformas de caráter retroativo, que visam restabelecer o equilíbrio original dos valores.
O caráter de conciliação que os atos obsessivos possuem em sua qualidade de sintomas neuróticos não é tão evidente nas práticas religiosas correspondentes. 
Mas também nestas descobrimos esse aspecto das neuroses quando lembramos a freqüência com que são cometidos, justamente em nome da religião e aparentemente por sua causa, todos os atos proibidos pela mesma – ou seja, as expressões dos instintos por ela reprimidos.
Diante desses paralelos e analogias podemos atrever-nos a considerar a neurose obsessiva com o correlato patológico da formação de uma religião, descrevendo a neurose como uma religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal. 
A semelhança fundamental residiria na renúncia implícita à ativação dos instintos constitucionalmente presentes; e a principal diferença residiria na natureza desses instintos, que na neurose são exclusivamente sexuais em sua origem, enquanto na religião procedem de fontes egoístas.
A renúncia progressiva aos instintos constitucionais, cuja ativação proporcionaria o prazer primário do ego, parece ser uma das bases do desenvolvimento da civilização humana. 
Uma parcela dessa repressão instintual é efetuada por suas religiões, ao exigirem do indivíduo que sacrifique à divindade seu prazer instintual: ‘A vingança é minha, diz o Senhor’. 
No desenvolvimento das religiões antigas, pode-se ver que muitas coisas a que a humanidade renunciou como sendo ‘iniquidades’ haviam sido abandonadas à divindade e ainda eram permitidas em seu nome, de modo que a atribuição a ela dos instintos maus e socialmente nocivos era o meio como o homem se libertava da dominação deles. 
Por isso, e não por casualidade, todos os atributos humanos, inclusive os crimes que deles derivam, foram imputados, num grau ilimitado, aos deuses antigos. 
Nem tampouco é uma contradição que, apesar disso, não fosse permitido ao homem justificar suas próprias iniquidades com o exemplo divino.
A HISTERIA




A história da histeria se repete. Hoje em dia encontramos a mesma polêmica do final do século 19, quando o médico francês Martin Charcot transformou o Hospital de La Salpêtrière, em Paris, em um grande laboratório de pesquisa clínica sobre a patologia. Foi ali que recebeu o então jovem neurologista Sigmund Freud, que de lá saiu para criar uma nova área de conhecimento: a psicanálise.

Foi Freud quem descobriu a causa sexual da histeria. E demonstrou que, ao contrário do que reza o senso comum, não é por falta de sexo que uma mulher é histérica. Ela não faz sexo justamente por ser histérica, tem aversão ao sexo devido a um trauma na infância. E isso não ocorre apenas na histeria: de alguma forma, o sexo é traumático para todos. Há sempre um descompasso entre o gozo e o sujeito: ou é muito pouco e o sujeito fica insatisfeito como na histeria ou é demasiadamente bom e o sujeito não suporta e se defende, postergando o gozo e considerando o desejo impossível, como o faz o neurótico obsessivo.

O sintoma histérico é um sintoma social, pois, para que ele se manifeste, o sujeito precisa de um espectador para quem vai atuar na peça escrita por um autor chamado Inconsciente – o que dá a impressão de a pessoa estar “fazendo um teatro”. Mas quem disse que não há verdade no teatro? A paciente histérica e Charcot constituem um laço social, definido por Lacan como “discurso histérico”.

Não é verdade que hoje em dia não se encontram mais as “histéricas de Charcot”. O ataque histérico epileptiforme é tão comum que ganhou, na atual neurologia, um nome: “pseudocrise”. Conversões histéricas povoam os ambulatórios médicos e chegam à mesa cirúrgica; delírios e alucinações histéricas de possessão demoníaca assombram as igrejas evangélicas e surgem nos serviços psiquiátricos como “psicoses breves” ou “transtornos dissociativos”. A histeria aparece como “o diabo no corpo” nos centros de umbanda, como coreia (ou dança de são guido) e transtornos somatoformes ou, em formas mais medicalizadas, como espasmofilia. Isso sem contar os diversos distúrbios alimentares que vão da bulimia à anorexia – e assinalam o gozo da oralidade típico da estrutura histérica. Os discípulos críticos de Charcot contribuíram para o abandono dos ensinamentos do mestre. Ao rejeitar o termo “histeria”, Babinski põe em seu lugar o pitiatismo (etimologicamente, “cura pela persuasão”), vulgo “piti”, que desqualifica as histéricas, fazendo-as novamente objeto de escárnio e agressão.

Freud, no entanto, levou a sério o que seu mestre detectou: no sintoma histérico há sempre verdade, mesmo quando é feito de mentira; e, como o sintoma neurológico, ele é da ordem do real, pois em seu cerne há sempre uma lesão – “dinâmica” para Charcot –, a lesão do sexo. A verdade da mentira histérica que aparece em sua encenação desvela o “diabo” no corpo – um diabo chamado gozo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015



O COMPLEXO DE ÉDIPO


De acordo com Freud todo ser humano deve sua origem a um pai e a uma mãe, não tendo como escapar dessa triangulação que constitui o centro do conflito humano. Essa triangulação perpassa por toda a vida do sujeito, sendo esse acontecimento que definirá a estrutura psíquica do indivíduo.
O Complexo de Édipo foi um conceito criado por Sigmund Freud. O fundador da psicanálise que teve como base a mitologia grega do Édipo Rei. Nesse cenário, Édipo, sem saber que Jocasta é sua mãe, casa-se com ela e assassina o próprio pai, inconsciente do grau de parentesco familiar. Quando descobre a verdade, Édipo, cega a si mesmo e sua mãe se suicida.
Esse conceito é universal na psicanálise, visto que desperta sentimentos de amor e ódio direcionados para aqueles que lhes são mais próximos, os pais. O complexo de Édipo ocorre quando a criança está atravessando a fase fálica, ou seja, quando descobre que ao atingir três anos de idade passa a ser alvo de varias proibições que para ele eram desconhecidas. Nesse momento, a criança não pode mais fazer o que bem entende, a família e a sociedade começam a impor regras, limites e padrões.
Nesse sentido, quando a criança percebe que está nesse momento da vida e reconhece a distinção entre ela e seus genitores, ela ingressa em uma das fases mais importantes de sua vida, tendo em vista que definirá seu comportamento na idade adulta, principalmente referente na esfera sexual.
Sendo assim, o Complexo de Édipo é um dos conceitos mais famosos na teoria freudiana, ao passo que o fundador da psicanálise passou anos a fio elaborando e repensando até chegar ao conceito final. Inicialmente, o Complexo de Édipo se referia a uma escolha objetal, mas, lentamente, torna-se um processo central para o desenvolvimento do conceito de identificação.


O termo Édipo surge desde o início dos estudos de Freud, porém, só ganha uma elaboração mais definitiva no momento em que Freud finaliza sua obra.
No menino o complexo de Édipo se desenvolve através de um investimento objetal para com a mãe, dirigido, primeiramente, para o seio materno, modelo anaclítico de espelho objetal. A sua relação com o pai é de identificação. Esses dois relacionamentos não têm longa duração, pois logo os desejos incestuosos do menino pela mãe se tornam mais intensos, e o pai passa a ser visto como um obstáculo a eles; disso se origina o complexo de Édipo. Logo, a identificação com o pai carrega-se de hostilidade, e o desejo de livrar-se dele predomina, bem como a ideia de ocupar seu lugar junto à mãe. A ambivalência inerente à identificação, desde o início, se manifesta dominando a relação com o pai. Portanto, o complexo de Édipo positivo do menino se caracteriza por uma atitude ambivalente em relação ao pai e por uma relação objetal afetuosa com a mãeSegundo Freud (1900, p.261), durante a infância, “apaixonar-se por um dos pais e odiar o outro figuram entre os componentes essenciais do acervo de impulsos psíquicos que se formam nessa época”


.Portanto, o fim do complexo de Édipo é correlativo da instauração da lei. É pelo medo da castração que o menino começa a desistir de sua paixão incestuosa, iniciando o processo pelo qual acabará por identificar-se com a Lei do Pai, assim para Freud a lei repousa na interdição do incesto. “Os investimentos objetais são abandonados e substituídos por uma identificação. A autoridade do pai introjetada no ego forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo o ego do retorno da libido” (FREUD, 1977, p. 221).Ao mesmo tempo em que estas fantasias claramente incestuosas são superadas e repudiadas, completa-se uma das conquistas mais significativas, mas também mais dolorosas, do período puberal: a emancipação da autoridade dos pais, único processo que permite o surgimento da oposição entre a velha e a nova geração, tão fundamental para o progresso da civilização. (Freud apud Mezan:2003:136)


A Dissolução do Complexo de Édipo




Para entendermos o que acontece no Complexo de Édipo é preciso voltarmos um pouco na “historia” do sujeitos, no que poderíamos chamar de “primórdios” da relação com o objeto. O primeiro objeto erótico de uma criança é o seio da mãe que alimenta. A origem do amor está ligada à necessidade satisfeita de nutrição. Este primeiro objeto- o seio – é ampliado à figurada da mãe da criança, que não apenas a alimenta, mas também cuida dela e, assim, desperta-lhe um certo número de outras sensações físicas, agradáveis e desagradáveis. Através dos cuidados com o corpo da criança, a mãe torna-se seu primeiro “sedutor”. “Nessas duas relações reside a raiz da importância única, sem paralelo, de uma mãe, estabelecida inalteravelmente para toda a vida como o primeiro e mais forte objeto amoroso e como protótipo de todas as relações amorosas posteriores – para ambos os sexos” (FREUD, 1940/1996, p.202).
A destruição do complexo de Édipo é ocasionada pela ameaça da castração. Nesse caso, a catexia objetal da mãe deve ser abandonada. O seu lugar pode ser preenchido por uma das duas coisas: Uma identificação com a mãe ouuma intensificação de sua identificação com o pai, como resultado mais normal e que consolidaria a masculinidade, no caso do menino.
De modo que, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração. A menina aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência.
O complexo de Édipo, apesar de acontecer na infância, o sujeito revive esse fato na adolescência e os resultados dele estão presentes na vida de qualquer adulto. De acordo com a lenda do Édipo Rei, para Freud (1917), ouvi-la é um certo horror para todos os sujeitos, uma que vez que esta “evoca” o que estava adormecido – os desejos incestuosos.