Quem busca
psicoterapia ou psicanálise?
Quem está sofrendo.
Como regra, é esse o perfil das pessoas que nos ligam querendo marcar uma
consulta. Atualmente, alguns indivíduos de poder aquisitivo mais elevado têm
recorrido à psicanálise ou outro tipo de tratamento não porque estejam sofrendo,
mas porque querem ser mais felizes, isto é, não querem deixar de ter desprazer,
mas sim de terem prazer a mais, o que é uma demanda perfeitamente
legítima. No entanto, essa parcela de pessoas não representa nem 1% de nossa
clientela. A maior parte das pessoas chega ao consultório queixando-se de dores
da alma, que limitam sua capacidade de usufruir de uma vida que desejam
viver. É o rapaz que tem as mãos esfoladas e está sempre atrasado porque
não consegue deixar de lavá-las 50 vezes após usar o banheiro; é a adolescente
que não consegue ter sucesso em nenhum de seus relacionamentos amorosos; é a
senhora que sofre desmaios toda vez que entra numa fila; é o executivo de
meia-idade casado que não gostaria de sentir desejo sexual por seu estagiário.
Esses são exemplos de coisas que levam as pessoas a buscar a ajuda de um
psicoterapeuta ou um psicanalista. O pedido que nos chega, portanto, pode ser
expresso grosso modo da seguinte forma: “Eu sou assim, mas não gosto de
ser assim, pois acho que eu seria mais feliz sendo diferente, mas não consigo
ser diferente. Portanto, espero que o senhor me ajude a ser diferente.”. Na
maior parte dos casos, há sempre algumas pessoas às quais o indivíduo que nos
procura atribui a culpa pelo seu estado atual infeliz: é o pai que nunca lhe
deu muita atenção; o marido, grosseiro e irascível; a mãe que prefere a irmã a
ela, enfim, a lista varia, mas há sempre um culpado por suas mazelas.
Evidentemente, não é preciso ser Freud para saber que essa atribuição de culpa
é apenas uma estratégia empregada pelo doente para se livrar da
responsabilidade por suas queixas, mas o detalhe é que, na maioria dos casos, o
paciente não possui tal consciência. Logo, quando alguém nos procura, além de
sofrer, sentir-se limitado e querer ser diferente, essa pessoa espera que nós legitimemos o
seu sofrimento, compartilhando com ela da crença de que fulano de tal é o
responsável por ela estar como está. Ou seja, o doente espera não só que nós o
tornemos diferente do que é, mas que nós o compreendamos no
sentido de que nós reconheçamos que seu sofrimento é razoável e justificado.
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